Durante a 1a Mostra internacional de São Paulo, participei de um encontro muito interessante com outros artistas através de uma proposição de Igor Dobricic convidado por Eleonora Fabião.
Os curadores Eleonora Fabião e Igor Dobricic propuseram aos participantes da MITsp e artistas e técnicos locais na programação do evento um espaço de aproximação e troca entre criadores de diversas cenas contemporâneas. Eleonora é performer e pesquisadora da cena experimental, nascida no Rio de Janeiro. Igor é dramaturgo no campo da dança, nascido em Belgrado.
A PROPOSTA tomou como ponto de partida um trabalho que Igor vem elaborando desde 2009 –“Table Talks”– e a pesquisa sobre performance e encontro que Eleonora desenvolve desde 2008 através de suas práticas artísticas e teóricas.
Igor e Eleonora se apresentaram e nos disseram que estávamos ali para construir junto uma mesa onde almoçaríamos juntos. No entanto não trouxeram nenhum material ou ferramenta para isso, o grupo teria que dialogar com o espaço e seu entorno para conseguir o necessário para a construção da tal mesa.
Um encontro prático, natural e complexo que tratava fluidamente de questões espaciais, relacionais, políticas, sociais e culturais…. e por aí vai. Foram dois dias com idas e vindas de pessoas diferentes que podiam estar mais ou menos presentes ali, construímos uma mesa, observamos, discutimos e decidimos, desmontamos tudo, recomeçamos…. até que nos sentamos para comer juntos na mesa que construímos. Depois de comer cada um escreveu na mesa uma frase ou questão relacionada a esta experiência e depois disso lemos o que escrevemos, conversando até o esgotamento de cada uma das questões.
Dois dias para dar o gostinho da pesquisa destes dois artistas engajados e resignificar constantemente o espaço, o encontro e a arte.
Depois de algum tempo passada esta experiência, fui para Córdoba-AR, onde encontrei Matías Zanotto, um amigo e parceiro de trabalho com o qual mantenho relação estreita de cumplicidade mas que neste momento era uma relação cheia de questões mal resolvidas. As palavras não davam conta da complexidade do que passava entre nós dois.
Lembrando que tivemos nossa primeira conversa em um balanço de dois lugares, numa noite onde eu ainda não falava espanhol e muito menos ele português, com a memória deste encontro onde o sentido das palavras praticamente não existia, onde tudo era corpo e vibração, propus a ele que construíssemos um balanço juntos, derivando da experiência do Table Talks.
Marcamos um dia e saímos de manhã em deriva procurando os materiais e ferramentas necessários, no final da tarde já estávamos com nosso balanço pronto.
Escolhemos um lugar da cidade que gostaríamos que fosse mais habitado, e instalamos este balanço proporcionando um enquadramento da paisagem não usual para quem senta nele, na esperança de possibilitar um olhar diferente sobre este espaço público.
Nos sentamos juntos e passamos um tempo em silencio.
Tivemos uma conversa breve, carimbamos o balanço com a frase “a poesia é um ato” (a mesma que temos carimbada em nossos braços) e fomos embora.
Semanas depois o Matías passou por lá e encontrou uma bituca de cigarro bem ali, embaixo do balanço: alguém havia decidido sentar-se ali e passar o tempo ou ver o tempo passar.