Durante a mostra SEMANAS DE DANÇA do Centro Cultural São Paulo (CCSP), realizei algumas ações do “para não esquecer ou I’M VERY MUCH IN LOVE W/U”, entre elas uma convocatória de encontros onde a pessoa marcava por e-mail dia, horário e local para nos encontrarmos e tomarmos algo juntos.
Neste encontro a dois, eu contava a história de Roger Jean-Claude Mbédé e conversávamos sobre isso e outros assuntos … íamos passeando nas idéias, nos (re)conhecendo, construindo juntos este encontro, dando a ele o sabor único daqueles dois corpos naquele tempo/espaço específico.
Também ficou instalado no foyer do CCSP um televisor com o video-depoimento de Roger Jean Claude Mbédé, editado por Matías Zanotto durante as duas semanas de mostra.
Quando Nirvana Marinho, curadora de dança do CCSP me convidou para integrar a programação do SEMANAS DE DANÇA, conversamos bastante sobre as definições de site specific. Muitas perguntas surgiram nesta conversa, e me dei conta que ao mesmo tempo da mostra estava no CCSP uma exposição de Edith Derdyk, entre as obras expostas estavam suas linhas negras de “VARREDURA”.
Desde que Lua Tatit me chamou para produzir seu trabalho com a Edith : TABULEIRO sinto a obra desta artista movendo partes em mim… Após um ano como produtora do TABULEIRO, tenho certeza que o encontro com ela me atravessou! Foi me contaminando e quando Dudu Tsuda me presenteou com um carretel de linha cor-de-rosa antes de eu embarcar para o EXPERIMENTA SUR em Bogotá, não sabia que ele se desdobraria em tantos !!!
Não podia ignorar que esta obra da Edith estava exposta no mesmo Centro Cultural em que eu estava trabalhando …
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Um final de semana da mostra coincidia com a abertura de processo da residência artística que estou fazendo na Casa das Caldeiras, vi então a oportunidade não somente de me relacionar com a obra da Edith como também de realizar uma instrução sugerida pelo artista boliviano Diego Aramburo, que em um restaurante em Bogotá me disse que quando fosse expor algo deste projeto, poderia deixar um bilhete ao visitante da exposição dizendo que o esperava em outro lugar, e realmente ir viver esta espera. (conversávamos sobre o tempo que o Roger passou encarcerado sem receber visita)
Deixei então o bilhete na Casa das Caldeiras, fui até o espaço expositivo do CCSP, vesti um casaco cor-de-rosa sobre a blusa negra que usava, posicionei duas cadeiras negras de frente para a instalação de negras linhas de Edith Derdyk e lá me pus a esperar, contemplando a paisagem-obra.
Não veio ninguém da Casa das Caldeiras me encontrar, mas para minha surpresa algumas pessoas sentaram ao meu lado para ver a obra e falar sobre ela. Algumas me perguntavam porque estava ali e eu respondia que estava esperando.
Uma pessoa, ao poder sentar diante da obra comentou que isso a fez pensar na importância de lugares para se sentar e poder contemplar as obras de arte. Me disse que isso a fez reparar que no CCSP não existem lugares para isso.
O mais espantoso foi um moço que se sentou ao meu lado para perguntar se aquilo era uma performance, ele passou um bom tempo ali comigo, percebi que tinha um sotaque estranho… meio carioca, meio estrangeiro … pensava que talvez ele fosse português. Na conversa descobri que era boliviano, artista plástico de Cochabamba, cidade do Diego, o mesmo que me falou para esperar … perguntei para ele se o conhecia e me disse que sim ! Mera coincidencia ???
Este moço também trabalha com fios … fiquei curiosa para ver seu trabalho, mas não tinha onde anotar seu nome e acabei esquecendo.
Aqui você pode ver algumas imagens da Mica Wernicke neste dia lá no CCSP!